Ainda na barriga de sua mãe seu destino já estava traçado. Também pudera, toda sua família era flamenguista e isso era uma tradição, passada de geração em geração.
Por coincidência, Pedro Henrique veio ao mundo em 1980, ano em que o Flamengo conquistou seu primeiro título.
Seu pai não conteve as lágrimas, chorava copiosamente feito uma criança, duas alegrias assim de uma só vez, era demais para seu coração. E senhor Juca cumpriu a promessa e subiu ajoelhado à escadaria de acesso ao Cristo Redentor. Quando chegou aos pés, de um dos principais cartões postais do Rio de Janeiro, depositou uma reluzente bola, que naquela época ainda era de capotão, em agradecimento à dádiva dupla, que lhe foi concedida.
Com três anos de idade, Pedro Henrique, mal se mantinha firme nos passos, mas, ensaiava seus primeiros chutes a gol. E não é que o menino levava jeito? Se tornou um ótimo boleador, e na sua brincadeira favorita que era a pelada entre amigos, quem reinava era ele, o dono do campo e do drible.
Senhor Juca que até então nunca tinha levado seu filho a um estádio de futebol, escolheu uma data histórica, algo para ficar cravado na memória do seu primogênito. E foi no dia 19 de julho de 1992, aos dozes anos de idade, deslumbrado ao som de uma torcida ensandecida que gritava no Maracanã, com muito sincronismo, ”Mengoooo”, “Mengooooooooo”, que Pedro Henrique viu seu time conquistar o Pentacampeonato brasileiro.
E assim crescia o garoto rubro-negro. Coleções intermináveis de camisas com o brasão do seu time, chuteiras de vários formatos e cores, recortes de jornais com resultado das partidas, fotos dos ídolos Júlio César, Gaúcho (Djalminha), Charles Guerreiro e muitos outros...e a vida seguia...
Ontem após, assistir a vitória de 2 a 1 sobre o Grêmio, Pedro Henrique foi comemorar o Hexacampeonato, a cidade estava em alvoroço! Antes de sair, se despediu do pai com um beijo na testa e disse “seu Juca hoje vou festejar! Não me espere acordado pois, volto só amanhã”. Seu Juca mal teve tempo de responder “vá meu filho, vá com Deus, mas, cuidado”...
Parecia carnaval de rua, serpentina, confete, muita dança, risos, alegria estampada no rosto de todos os brasileiros, e entre uma cerveja e outra, o inesperado aconteceu! Uma briga entre torcedores começou, ninguém sabe de onde. No meio daquele tumulto vinham socos e pontapés. As pessoas em pânico corriam e gritavam coisas desconexas. Até que um estrondo ecoa, um barulho forte, porém, seco e frio. Era um tiro, uma balada perdida.
Pedro Henrique cai no meio fio da calçada. Seus olhos transmitem desespero. Ele não entende aquela situação! Atordoado começa a espumar sangue pela boca e tenta balbuciar algo. Seus amigos se ajoelham e tentam ouvir suas últimas palavras. Com voz quase inaudível ele canta “uma vez Flamengo...Flamengo até morrer”.
Senhor Juca hoje lidera a ONG “Paz no Futebol” e percorre vários regiões do país hasteando sua bandeira, a luta pelo fim da violência entre as torcidas.
Observação: Isso é uma tentativa de crônica, portanto, os personagens são fictícios. Utilizei como base para compor o texto, o time do Flamengo mas, poderia ter citado qualquer outro clube.
Observação: Isso é uma tentativa de crônica, portanto, os personagens são fictícios. Utilizei como base para compor o texto, o time do Flamengo mas, poderia ter citado qualquer outro clube.
Ficou muito bom, e por enquanto o Flamengo é o time da moda.
ResponderExcluirEstá bem bacana, Fê, sua crônica.
ResponderExcluirQuantos Pedros Henriques não temos por aí, que saem para festejar nas ruas e acabam mortos ou feridos? O fanatismo supera o bom senso e a alegria.
É nesse cenário que teremos, daqui a pouco mais de quatro anos, uma Copa do Mundo e da qual precisará de muuuuuuuita maquiagem para tentar esconder muita coisa necessária para uma boa Copa.
Bj!
Joselito,
ResponderExcluirObrigada! É...Flamengão tá com tudo. Agora ninguém seguraaa! (risos).
Obrigada pela participação!
Jaime,
Sempre amei esse estilo de texto. Ivan Angelo, Walcyr Carrasco, Lúcia Sauerbronn e agora Jaime Guimarães...são meus autores preferidos!
Mas, peguei o jeito da coisa...c/ vc mesmo! De tanto ler o Grooeland.
Você é um ótimo professor. Obrigadaaaaaa!
Temos 4 anos para deixar a casa em ordem, para receber um mega evento esportivo. Será que dá tempo? Corre Brasil...correeeeee!
Obrigada pela participação!
Beijossss, Fê
Fernanda,
ResponderExcluirExcelente texto.
Sou flamenguista, vivo no Rio de Janeiro, mas poderia morar em SP e ser palmeirense( torcer para o SP não acredito ), porque sempre estou preocupado com os fanáticos torcedores de qualquer time, até mesmo dentro das suas próprias torcidas, ou seja, facções como do Flamengo, Vasco, etc., que abusam da euforia, maioria das vezes movidos a bebidas, problema que não é só nosso porque pior acontece no Reino Unido e Alemanha. Basta acompanhar noticiários estrangeiros para conferir.
Muito boa crônica.
Parabéns,
Saraiva
Um excelente texto apesar de nao conhecer esta realidade.
ResponderExcluirUfa estava coberto de emoção.Ótima cronica,que bom que é apenas ficção.
ResponderExcluirOlá amigos,
ResponderExcluirAgradeço pelos comentários...
Saraiva,
Utilizei o Flamengo para compor a crônica porém, poderia ter citado qualquer outro clube. A violência entre os torcedores é algo inaceitável. Virou selvageria. Sendo o futebol um esporte tão agregador, não deveria estar aliado a tanta violência.
Obrigada pela participação.
Abraços, Fê
Kafia,
Agradeço pelo comentário!
Também não conheço muito essa realidade. Nunca fui muito fã de futebol. Apenas utilizei o tema para denunciar a violência entre torcedores.
Obrigada pelo elogio.
Abraços, Fê
Anônimo,
Coberto de emoção??? É...sou trágica mesmo! Mas, nem tanto assim (risos). Casos como o de Pedro Henrique é bem mais comum do que imaginamos.
Se identifique da próxima vez ok? E obrigada pela participação.
Abraços, Fê