domingo, 10 de fevereiro de 2013

O dia que roubaram meu caderno...


Não tenho trauma de infância, daquele tipo escolar. Embora motivos, tenha de sobra pra ter (uma longa história e como toda boa história, quem sabe um dia mereça um post).
Gosto de caderno, simplesmente pela praticidade. Não me adapto a agendas, houve sim uma época em que elas eram úteis mas, por serem datadas, se perdem no tempo cronológico.
Comecei a personalizar meus próprios cadernos, gosto de capas originais! Com a minha cara, diria. Gosto de cor, de imagem, de fundos não lineares, aprecio a diversidade.

Este específico que serve para ilustrar este post, preparei com o maior carinho pouco depois de me matricular na pós-graduação. Seria uma espécie de grimório (pra quem não sabe o significado da palavra, as bruxas costumavam anotar suas magias em códigos, cifras, sinopse, ou qualquer termo similar que se adeque ao que tento explicar, como forma de manter os registros de suas receitas. E optavam por essa escrita própria, desenvolvida cada qual de forma individual, para camuflar a inquisição. Uma vez achado um grimório, este seria um testemunho real que as levaria à fogueira de encontro a morte).

No dia 06 de fevereiro, deste ano, fui assaltada. Dentre tantos badulaques, que toda mulher carrega em uma bolsa (aqui cito maquiagem, perfume, creme, documentos, um pen-drive, um celular bacana com fone de ouvido, um livro mega interessante, pouco mais do que R$ 20,00 conto, etc), foi-se também a mochila com o caderno. Dentro de mim levo uma certeza, de que não fui uma vítima ao acaso. Mas, acusar sem ter provas é levantar falso testemunho. E esse caroço de manga engasgado, terei que engolir (apenas mais um, dentre tantos que a vida te enfia goela abaixo).

Tentei em vão, sabia que era em vão, negociar o caderno. Ali escrevi essência, conhecimento e vivência dos meus mestres, nada apostilado, nem editado em um livro. Posso descer estantes e mais estantes em uma biblioteca, que não vou encontrar essas informações catalogadas em nenhum outro local.

Faltam apenas dois módulos para finalizar meu curso e transportei para aquelas folhas (menos de 200, se considerarmos as poucas que arranquei com muita dó), tudo que consegui absorver de aprendizado. Ele, o caderno, era o meu grimório de estudo. A sensação? Difícil até descrever!

Se conseguir finalizar uma monografia, terei direito a um pedaço de papel no formato A4, escrito na horizontal, com logotipo, assinatura, que levará meu nome, e que no passado era emoldurado para ser pregado na parede (hoje já caiu em desuso e é até brega, exceto para algumas áreas específicas). Sim, é do diploma que me refiro!

O caderno, o meu caderno, tão meu, tão pessoal, se foi... e simplesmente sentei e chorei! Chorei embora não tivesse valor monetário, nem pra mim, nem pra quem o levou abruptamente. Gastei menos de R$ 6,00 em sua aquisição, menos de R$ 1,00 em sua personalização, R$ 4,00 em canetas, e um valor incalculável  (de horas de dedicação e cansaço) para preenchê-lo de conhecimento que me foi partilhado. 

A pós vai acabar, alguns amigos permanecer, outros distanciar, os professores serão sempre lembrados! Mas, o caderno, ah...esse jamais esquecido!

Observação: Tentei escrever uma crônica, da vida real. Nem tudo o que está escrito é verídico ou talvez seja, não sei!

Termino com com trechos da música "O Caderno", de Toquinho...

O que está escrito em mim
Comigo ficará guardado
Se lhe dá prazer
A vida segue sempre em frente
O que se há de fazer...

Só peço, à você
Um favor, se puder
Não me esqueça
Num canto qualquer!
Não tem volta...

Se você vai por muito tempo, você nunca volta!
Você retorna, você contorna,
Mas, não tem volta!
A estrada te sopra pro alto, pra outro lado.
Enquanto aquele tempo vai mudando...
Aí, de quando em quando você lembra,
Aquele beijo, aquele medo, mas, você sabe
Que tudo ficou antigo.
E você não volta, nem com escolta, nem amarrado.
Porque o passado já te perdeu
E o perigo muda mesmo de endereço.
Não existe pretexto.
O dia mudou, o carteiro não veio
O princípio é o meio
E você retorna...
Mas, não tem volta!!!

Poema, poesia ou tentativa de? Não sei!!! Escrevi entre os 14, 15, ou no máximo 16 anos...já não me lembro! Mas, o que importa? Não tem mais volta!